Todo mundo precisa de remédio de vez em quando



sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Paula e a Psicóloga



É. Nem eu acredito. Como o título sugere, eu fui sim numa psicóloga. Mas espera aí, que tem explicação.

Eu já nasci com um dispositivo não-desligável de ansiedade permanente. Desde o prézinho que eu sonho em fazer uma faculdade e ter uma profissão. Acabou que eu fiz magistério e não gostei. Cai de para-quedas em administração e, claro que pra dar aquele tchan na minha vida, me formei e fiquei na dúvida.

Pra confirmar ou pra partir pra outra, eu queria porque queria fazer um teste vocacional. Os da internet nunca me deram opções sequer aceitáveis. Depois de meses pensando, meses ensaiando, meses indecisa, acabei por pegar o telefone e ligar pra marcar um belo de um teste.

- Você já é paciente dela?

Hum. Paciente? Eu não. Paciente lembra doença e eu estava sãzinha. Paciente, ora essas...

- Sábado às 9:00 está bom?
- Acho que sim.

E lá fui eu num sábado de manhã descobrir o que eu nasci para fazer. Fiquei ansiosa e cheguei muito cedo. Andei pra lá, andei pra cá, dei a volta em alguns quarteirões e toquei a campainha. Claro que com muita discrição. O que as pessoas iriam pensar se me vissem ali, em frente a uma clínica de psicologia?

Fui muito bem recebida. Elas devem ter feito isso porque nunca se sabe quando vai chegar um louco lá, não é mesmo? (affff)

A psicóloga me levou por um corredor comprido, na sala dela. Tinha várias salinhas de cada lado e, como as portas estavam abertas, pude ver que todas elas tinham um sofá, cortina, uma cadeira e mesa de médico. Dei risada. É tudo bem como a gente imagina mesmo. E eu ri porque com certeza a sala de teste vocacional seria algo bem menos clichê (afinal era teste vocacional, não terapia).

Pois não é que a sala dela era igualzinha às outras? Igualzinha... Oxe...

- Paula, pode sentar onde você quiser. Alguns preferem sentar mais na ponta, outros mais no meio... Fique onde você se sentir confortável.

Pronto. Foi o suficiente pra eu encanar. Sentar onde eu quiser? Lógico que eu ia sentar onde eu quisesse. O pior foi o tom. Calmo. Tranquilo.
Ela pegou umas folhas, uma prancheta e sentou na cadeira, olhando pra mim.

- Você se importa se eu anotar algumas coisas?

E então nós começamos. Olhei pra todos os lados procurando um computador, ou apostilas, ou folhas avulsas dos testes que eu iria fazer. Estava feliz porque eu finalmente saberia se estava ou não no caminho certo. Que alívio seria! Quanto tempo será que ia demorar? Porque eu estava pagando bem carinho pra não sair dali com uma resposta. Pensei com os meus botões que talvez acabasse umas onze, ou um pouco depois.

- Então, Paula. Conta pra mim um pouquinho da sua vida. Quem é a Paula?

Bom, devia fazer parte do teste, né? Ou vai ver que ela estava só querendo fazer amizade.

Mas não. Não. Não. Não. Não. A bandida fez todas aquelas perguntas que no final vão fazer ela achar que a culpa de tudo na sua vida é da sua mãe. Todas aquelas perguntas que você pensa bem se vai ser sincero ou não. Todas aquelas perguntas que fazem você querer chorar porque sua vida é um desastre.

Perto das dez ela já foi cortando o assunto e eu pensei: é só isso? Toda aquela fortuna por só isso? Uma hora de perguntas que eu nem queria responder? Vim pra casa com a cara pegando fogo de raiva.

Eu fui analisada!

E eu nem queria terapia!

Eu só queria que ela dissesse pra mim que eu serei uma boa administradora ou que era pra eu prestar vestibular pra zootecnia! Eu me meto em cada uma, viu?