Todo mundo precisa de remédio de vez em quando



terça-feira, 12 de outubro de 2010

Mega Sena



Eu nunca me interessei muito em apostar na Mega Sena. Pra falar a verdade eu nunca tinha apostado antes desse prêmio gigantesco de 115 milhões. E também não iria apostar se não tivessem me ligado avisando que iam fazer um jogo pra mim.

- Que números você quer?
- Ai, meu Deus... Assim, do nada?
- É, fala logo que eu estou na fila.

Olhei no papel de rascunho da minha mão, na hora do relógio, no arquivo aberto no computador e no celular. Talvez o mundo todo estivesse conectado a favor da minha sorte e me dando sinais. Eu só tinha que interpretá-los.

- Tá. 50, 57 e 11.
- Hum, que mais?
- Mais?
- É, Paula. Mega Sena são seis números.

Hum. Será que todo mundo sabe disso menos eu?

- Tá. 19, 02 e 35.

É claro que eu não ganhei. Não acertei nenhum número. Onde foi parar a sorte de principiante? Não era pra eu ter ganho essa? Deeeer, claro que não. Mas até umas oito horas da noite eu fiquei pensando: o que eu faria com todo aquele dinheiro?, como se eu realmente fosse ganhar.

É claro que a cabeça da gente voa, e a minha voa mais ainda por natureza. Primeiro eu tiraria umas férias do meu emprego pra poder curtir meu caso de amor com meus milhões (só metade do prêmio porque eu tinha prometido dividir). Acho que daí eu compraria tudo que sempre quis e me refreei, coisas toscas mesmo: os livros da Marian Keyes pra completar minha coleção, os novos DVDs de Smallville, adesivos decorativos pra pôr na parede do meu quarto, um quadro de tulipas, um rádio bom, mais roupas, mais perfumes e, claro, mais sapatos.

Munida dessas coisas eu iria à caça do meu carro novo, que não precisaria mais ser usado. E daí compraria uma casa também e tudo pra colocar dentro dela. Daí é claro que eu teria que contratar um decorador porque senão ia ser tudo rosa, amarelo, azul claro e vermelho. E ia também contratar algumas pessoas porque eu odeio organizar, arrumar e limpar. Que vida feliz que seria!

Próximo rombo no orçamento: viagens! Eu iria pra tudo quanto é lugar. Da Favela da Rocinha à Grécia. Finalmente ia ter um passaporte e ia fazer questão de carimbar qualquer lugarzinho em branco que ainda restasse. Daí, só pra não bater aquela depressão de quem não tem o que fazer – porque eu ainda estaria de férias do meu emprego – eu faria vários cursos, de línguas, de artesanato, de lutas... tudo!

Todo mundo sabe que foi somente uma pessoa que ganhou. E, como já disse, não fui eu. Pra me consolar vou continuar tentando me convencer de que a vida pra quem tem tanto dinheiro assim não tem graça. (Vai sonhando)