Todo mundo precisa de remédio de vez em quando



sábado, 7 de agosto de 2010

Dia de limpeza


De vez em quando eu tenho certeza de que não nasci pra ser “do lar”. Cada vez que minha avó viaja e me deixa sozinha com a minha tia é um caos, porque o acordo é este: ela cuida da casa inteira e eu do cômodo mais terrível (meu quarto).

Meu dia já não começou muito bem porque nem era pra eu estar em casa. Todo o pessoal do CEFAM combinou de se encontrar hoje e tudo já estava esquematizado. Eu só não contava com acordar seis horas da manhã com uma baita crise de sinusite. E estava um veeeeeeeento lá fora... Se eu saísse era capaz de morrer antes de chegar no ponto de ônibus. Fiquei triste por não ir.

Daí o jeito foi continuar na cama até enjoar de tanto dormir. Acordei umas dez horas e fiquei assistindo Sábado Animado com aquela menina feia (eu tenho medo da Maisa).

O que eu ia ficar fazendo o sábado todo? O De estava estudando e minha única companhia era o gato branco. (Não, este não é o gato dos infernos... aquele lá é preto e sumiu um dia depois que eu escrevi uma carta na internet ameaçando ele). Bom, uma hora ou outra eu ia ter que arrumar o quarto, então quanto antes melhor.

Limpei a escrivaninha e joguei um monte de coisa fora. Ela estava grudando e eu pensei em passar um creme hidratante de madeira (como chama isso, Poliflor?) pra limpar. Mas é claro que eu não tinha nem idéia de onde isso estava e saí caçando. Quer saber onde eu achei? Atrás da caixa de ferramentas. Minha avó é mais lelé que eu.

Já que eu tinha jogado um monte de coisa fora e a escrivaninha ficou tão linda limpinha eu me empolguei. E se eu arrumasse as gavetas? E se eu arrumasse a estante? E lá fui eu fazer tudo isso.

Com as gavetas foi tranqüilo. Não faço idéia de porque guardei tudo aquilo porque depois de arrumar sobrou tanto espaço! Até eu me impressionei. Adoro jogar coisas no lixo. Pena que eu nunca tenho paciência, mas o quarto fica muito mais agradável.

Já com a estante o negócio foi um pouco mais complicado. A primeira gaveta que eu abri estava enfurnada de coisa velha e quebrada. Mas ai eu vi meus estojos de lápis de cor e tudo mudou. Como eu sou apaixonada por lápis de cor! E, como hoje era dia de CEFAM, fiquei super nostálgica.

Lá que era lugar de se estudar. Tínhamos total liberdade pra usar lápis de cor, canetinha, purpurina, adesivo, recorte de revista, giz de cera, fitilho... tudo, tudo que quiséssemos nos nossos trabalhos e cadernos. Eu cheguei a pintar todas as folhas do meu caderno de estágio... Éramos totalmente livres pra criar e colorir. Cada menina era mais talentosa que a outra. Senti muita diferença na faculdade. Tudo muito sério, muito preto, muito sem graça. Acho que é por isso que transferi toda a minha coloridade pras planilhas que utilizo no trabalho.

E então eu me lembrei da minha paixão pelos lápis de cor. Meu material favorito! Eu não emprestava de jeito nenhum e rosnava se alguém chegasse perto. Ficavam num estojo lindo e eu apontei o fim de todos para conseguir distingui-los dos das outras meninas. Ah, os lápis de cor... Lembro que meu sonho de consumo era um estojo ma-ra-vi-lho-so de lápis Faber Castell importados da Alemanha com mais de cem cores que tinha na Jalovi.

E todos estavam ali, bagunçados, mas ali. Tinha dos de 24 cores, os de 48, os bi e os fluorescentes. Então eu vi os mais preciosos: os aquareláveis! Aquilo era quase uma relíquia! Eram caréeeesimos e a maioria eu consegui por chantagear o Mário por alguma coisa que eu não me recordo.

Mas estava tudo meio misturado. Como que eu ia saber ao certo quais eram os aquareláveis? Não dava pra ler porque estava meio raspado de tão velho e eles também tinham o fundo apontado, pra eu saber que eram meus. Não tive dúvida: lambi todos pra ter certeza. Minha língua e minha mão ficaram todas pintadas. Daí eu fiquei com dó porque estavam tão sujinhos... pareciam lápis de creche velha. Resolvi limpar com algodão e Veja. (Não todos porque eu não sou louca. Só os que eu lambi). A gente sabe que uma pessoa é louca quando descobre que ela limpa lápis de cor velho... Com tanta coisa pra fazer no mundo!

Então eu encontrei um outro estojo. Também cheio de lápis de cor, mas aquele era diferente. Todos os lápis eram pequeninos. Não deviam ter nem três dedos de comprimento e uns eram menores ainda! Primeiro eu fiquei pensando: o que faz uma pessoa guardar um estojo cheio de lápis inutilizáveis? Mas eles estavam tão bonitnhos (sujos, mas bonitinhos), pareciam uma família feliz de lápis de cor anãos e eu resolvi deixá-los ali mesmo. Afinal, se eu resolvi guardar era porque devia ter alguma importância.

Depois de separar e apontar todos os meus lápis, cuidei da caixinha de purpurina e depois dos meus retalhos de papel. Que saudade de ser criativa!

Meu quarto acabou ficando muito mais sujo do que quando eu levantei. Tive que limpar de novo, e varrer. Daí eu descobri que não sei onde fica a pá de lixo. Não estava atrás da caixa de ferramentas também. Joguei lá no cantinho, espero que minha tia não fique brava.

E, já que eu encarnei o espírito de Amélia mesmo, acho que vou tomar um banho e passar no mercado comprar algumas coisas pra cozinhar à noite. Confesso que não sei fazer nada, mas achei meus livrinhos de receita, então...