
Home sweet home!
Nossa, como é bom estar em casa!
Muito bacana estar numa cidade diferente, com pessoas diferentes, num trabalho diferente. Cheguei em Curitiba empolgadíssima, me sentindo a pessoa mais adulta desse mundo. Deu vontade de morar sozinha, de me virar, mas isso passou bem rapidinho, ainda bem!
Eu gosto de chegar em casa e ver brinquedo de criança espalhado no chão da sala, gosto de ouvir barulho de conversa na cozinha, gosto do som dos passos pesados do meu tio, gosto dos sermões diários que a minha avó faz. Gosto mais ainda de não ter que fazer interurbano e de poder comer o que eu quiser, porque eu que vou pagar mesmo...
Não saberia viver sozinha. Pelo menos não numa cidade longe daqui.
Todas essas sensações faziam no dia da volta que eu ficasse mais ansiosa ainda pra deitar na minha cama. As coisas não acabaram daquele jeito. Claro que não...
Depois de dois mil anos esperando o avião pra Sampa, consegui sentar no meu lugarzinho que – coincidência ou não – era novamente na janelinha. Só que, como não estava num dia de sorte, era bem em cima da asa, então adivinha? Não vi nada e quase tive torcicolo de tanto que espiei a janela de trás.
Eu estava emburrada, irritada, chateada e cansada. Ainda ia demorar tanto pra chegar em casa... Como aquele aeroporto era confuso! Não gostei, não... mil chamadas pra mil lugares diferentes! Por que eles não pensam nos marinheiros (ou aviadores?) de primeira viagem?
De vez em quando eu me endireitava na poltrona. Que droga, em todas as viagens alguém me chamou a atenção:
- Senhora, pode pôr seu assento na posição vertical, por gentileza?
- Senhora, pode fechar a mesa de apoio, por favor?
- Senhora, coloque a mala abaixo do banco da frente, por gentileza?
Tudo culpa da minha grande e incurável distração. O cara podia repetir o quanto ele quisesse no microfone que era pra voltarmos nossos assentos na posição vertical que eu não ia escutar, estava muito ocupada vendo a praia que estava abaixo de mim.
Opa.... Praia??
De onde diabos surgiu aquela porcaria de praia????
Pronto, foi o suficiente pra eu ter falta de ar, ficar zonza, ter calafrio e começar a suar. Eu tinha ouvido várias vezes no aeroporto que algum daqueles vôos ia para o Rio de Janeiro, mas eu não ia! Eu queria a minha cidade mais do que tudo nesse mundo. Peguei o avião errado? Não, não era possível! Juro por Deus que se não fosse tão tímida tinha cutucado o executivo do meu lado: “Hei, amigo... esse avião vai pra São Paulo, né?”. Imagina o mico de uma pergunta dessas no meio da viagem.
O jeito foi ficar quieta e olhar cada vez mais para trás pra ver a janelinha. Eu bem que podia estar sonhando, não? Queria acordar e descobrir que tudo tinha sido um pesadelo maldoso, e que nenhum vôo ia ser cancelado naquele dia.
Fiquei com mais medo ainda quando o comandante disse que iríamos aterrissar em alguns minutos, não disse onde e aquela porcaria de praia não sumia nunca. Daí eu juntei as minhas mãozinhas e fiz várias promessas: se eu estivesse no caminho certo, poderia dar cem pulinhos, comprar um presente pro gato, chegar todo dia cedo no serviço, tratar melhor chato do vizinho... essas coisas.
Só na minha cabeça mesmo que era possível ter pegado o avião errado... Deeeerrr... Como se eles não conferissem 3 vezes cada passagem. Fiquei até feliz de pisar em São Paulo – argh – novamente.
Pra quem pensou que tudo seria igualzinho na volta quanto na ida, eu realmente me surpreendi. Nem a minha mala estava lá na esteirinha esperando por mim. É uma sensação esquisita ver todo mundo pegando a mala e a esteira ficando cada vez mais vazia e você ali, esperando. Menos uma mala, menos outra... e onde estava a minha? Ali não, com certeza, porque ficou tudo vazio. Não era possível... Fiquei mais alguns minutos ali, como uma tonta, esperando minha mala se materializar e nada... Anotei no meu bloquinho pra nunca mais sair de casa em 25/06. Credo.
Resumindo, minha mala quase foi pra Bauru sem mim.
Beleza, maioria dos passos resolvida. O que fazer agora? Ligar para o taxista me buscar. Liguei, ele me passou pra outro e o celular desse outro estava desligado. Acho que a palavra desespero se encaixava bem no que eu senti. Toca ligar pro primeiro taxista.
- Bom, moça, ele deve ter desligado na estrada. Mas vai pra outro aeroporto ai em São Paulo que ele te pega lá, porque pra ele ir nesse aí é muito longe. Vai pra Cumbica.
E lá vamos nós pra Cumbica então.
Fui atrás de um ônibus que faz viagens entre os aeroportos.
- Moço, você tem passagem pra Cumbica?
Ele não me ouviu muito bem porque estava prestando atenção ao jogo do Brasil contra Portugal. Copa do Mundo é fod*, né? Ele mal me olhou e carimbou uma passagem e disse que ia sair um ônibus em alguns minutos. Fui lá. Mas na minha passagem estava escrito Guarulhos.
Fiquei pensando... Bom, mas já que eu não conhecia nada mesmo e confundi São Paulo com Rio de Janeiro, quam sabe Guarulhos fosse Cumbica. Na pior das hipóteses eu ia ter que dormir na casa da minha mãe. E não é que Guarulhos e Cumbica são quase a mesma coisa, mesmo?
Peguei o taxi sem maiores estresses. (Sem contar que aquele aeroporto é do tamanho de Pederneiras, me perdi três vezes, esqueci o lugar que ia me encontrar com o motorista, derrubei lanche na minha roupa e ele chegou atrasado).
Puxa, chegar em casa nunca foi tão bom. Até se tivesse com o cheiro daquele gato dos infernos eu teria adorado estar no meu quarto. Pronto, agora sim acabou. Ufa!